certa vez houve uma encruzilhada. resolvi virar à direita.
o caminho me levou ao vale de um árido cânion. a paisagem era exuberante sob a luz do fim da manhã. porém, à medida que andava, o trajeto foi se tornando claustrofóbico. as paredes do precipício foram, a cada passo, se fechando.
até me levar a um beco sem saída.
minto, havia uma saída. cercado por monumentais paredes rochosas impossíveis de serem escaladas, avistei ao término da trilha um formidável elevador feito de bambu, cordas e roldanas. sugerindo que o percurso seguia do alto.
dentro do engenho, um rapaz alto, magro e vestindo uma velha camisa encardida fazia a manutenção de algumas peças. "você me levaria para cima?", perguntei gentilmente ao ascensorista. "sou um prestador de serviços. você precisa pagar um tributo para alcançar o seu destino", respondeu de forma categórica.
estava ficando tarde e logo iria escurecer. dar meia-volta, a fim de rever a escolha feita na encruzilhada poderia ser perigoso. como não havia ouro comigo, fui obrigado a improvisar. "não tenho ouro, mas compreendo que a lei natural das coisas se baseia na troca. tenho algo a lhe oferecer", disse ao rapaz, do qual, agora, eu tinha sua total atenção. "e o que seria?", respondeu curioso. "ambos temos algo em comum. nos movemos. eu em direção ao horizonte. você em direção ao céu e ao chão. a diferença crucial é que eu não me repito. persigo o desconhecido. enquanto você está preso a um vai-e-vem sem novas paisagens", elaborei.
"proponho uma troca," concluí, "se me deixar subir, assumo seu posto por seis dias completos. torno-me o ascensorista e você o andarilho. assim, poderá andar a esmo e se deparar com incríveis surpresas pelo caminho. ao final do sexto dia, você volta e eu sigo andando".
o rapaz aceitou o acordo de bom grado.
subimos e, do alto do desfiladeiro, ele tomou seu rumo. como combinado, assumi suas funções. raros errantes passaram por ali naquele meio tempo. isso tornou a experiência entediante.
foram seis longos dias.
ao cair da sexta noite, o ascensorista não havia voltado. ao raiar do sétimo dia, segui meu caminho prontamente. meu débito estava pago.
não vi nenhum mal em deixar o elevador de bambu sozinho. talvez o rapaz tivesse se atrasado. ou se perdido em alguma aventura. ou mesmo desistiu daquela vida, reconhecendo-se, com a oportunidade, um andarilho.
talvez um novo ascensorista aparecesse ao seu devido tempo.
eu estaria longe quando isso acontecesse.
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