quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

a cidade invisível

estive andando por tanto tempo que nem mesmo conseguia quantificar.

horas? dias? séculos?

era uma trilha monótona. não haviam paisagens nem surpresas pelo caminho. há muito que o horizonte não passava de uma indolente linha reta. foi quando eu me dei conta.

eu estava passando por uma cidade invisível e intangível. não era uma cidade fantasma, pois fantasmas dedicam-se a assombrar. o que não era o caso. jamais poderia interagir com seus habitantes pelos usuais meios sensoriais. visão, audição ou tato não se aplicavam à realidade deste local. espero não ter tropeçado em ninguém. teria sido uma tremenda gafe!

fiquei constrangido. o povo nativo possivelmente acreditou que eu era antipático e pedante. eles não poderiam supor que eu não conseguia percebê-los. até então.

parei por dois minutos e deduzi que não iria me comunicar com eles de forma tradicional. precisaria usar a imaginação. era o que eu tinha à mão, pelo menos. somente a privação de sentidos me colocaria em contato com esta cidade. parei por um instante, respirei fundo e fechei os olhos.

foi então que uma bela cidade se apresentou à minha frente. onde viviam pessoas muito acolhedoras e voluntariosas. um sujeito alto, que ostentava um farto bigode, me convidou para ficar um tempo na cidade. me pareceu ser uma espécie de líder do grupo. "você precisa descansar", insistiu ele. agradeci a hospitalidade, mas disse que precisava seguir andando. perguntei se faltava muito para chegar em um local passível de ser reconhecido pela retina ocular. ele disse, então, para seguir fiel ao limiar da visão. que, em algum momento, despontariam vetores mais verticalizados.

me despedi, abri os olhos e segui andando.

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